quarta-feira, 22 de abril de 2009

see you around fiodor

uma vez o dostoievski escreveu um livro que em português se traduziu por crime e castigo. segundo os registos, escreveu-o até por mais do que uma vez, ou andou a escrevê-lo por várias. o nome do livro denuncia escarrapachadamente do que se trata, não há surpresa quando o leitor se vai apercebendo do tema fulcral. o mundo familiarizou-se com essa obra mas não se sabe ao certo quantas pessoas a leram. eu na minha ideia era giro que fossem muitas.

acontece que no fim de contas andou-se ali a acompanhar um personagem e aquilo conduz-nos a coisas que são de a gente ser gente humana, das boas e das outras que arrepiam o pensá-las.

disse que se acompanha ali um personagem. reformulo, acompanha-se principalmente o interior, a psique, em tudo o que ela tem de racional conjugado com o que lá anda de aparentemente incontrolável, o consciente, o inconsciente, as várias maneiras por que um pensamento, uma ideia ou um sentimento se processam. já toda a gente disse sobre a genialidade do dostoievski, faz parte dos cânones reconhecê-lo.

as maiorias não têm razão nem deixam de ter, visto que as opiniões das maiorias não se fundamentam em observações e reflexões acerca da coisa em que recaem mas em outras opiniões. já essas outras opiniões podem ser fundamentadas em reflexão e observação, em pura manipulação ou em coisas difíceis de determinar. de uma ou de outra maneira, as opiniões das maiorias não são muito de fiar devido à falta de rigor e de solidez que normalmente acarretam, embora às vezes lá coincidam com coisas que podem conter alguma solidez e rigor.

resumindo, ninguém se atreve a dizer mal do dostoievsky por causa disso dos cânones (ainda que a maioria da maioria que diz que sim senhoras nunca lhe tenha lido uma frase). eu, que evito maiorias, vejo-me por linhas travessas agregado a elas algumas vezes. não sei dizer se a minha opinião sobre o dostoievsky e o crime e castigo seria a mesma se nunca tivesse ouvido falar dele mas estou convencido de que seria difícil algo em mim não vergar de admiração, é que aquilo é uma coisa de uma humanidade, de uma riqueza, de um entendimento, de uma inteligência (poderia continuar: subtileza, elegância, requinte e por aí fora) que é quase crime não ser lido (como muitas outras coisas que eu nunca li e nunca lerei, o meu castigo é não saber o que perdi).

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