terça-feira, 17 de março de 2009

see you around jeff

uma vez ia o jeff buckley com um amigo numa noite de agradável luar. diz o amigo: então ó jeff, pás, quando é que o álbum novo fica pronto? responde o jeff: sabes como é, isto um gajo nunca está satisfeito, já tinha as coisas praticamente acabadas mas resolvi entretanto fazer do início, já tenho quase metade e agora é mesmo para valer.

o álbum ia chamar-se my sweetheart the drunk mas nunca chegou a sair porque o jeff entretanto olhou para o rio e disse: ouve lá, isto está porreiro era para dar umas braçadas. o amigo tentou dissuadi-lo que tinham bebido uns copos e a água estava fria mas ele não fez caso e lá se deitou ao rio nadando e cantarolando "whole lotta love". terão sido as suas últimas palavras. o corpo viria a ser encontrado uma semana depois.

para a posteridade ficam, além do que tinha sido editado em vida, os álbuns póstumos (que entretanto são muitos), em especial sketches for my sweetheart the drunk (aproximação a um álbum inacabado).

see you around jeff.

domingo, 15 de março de 2009

rugas de expressão verbal (adenda)

fui alertado para o facto de o verbo franzir ter outro uso (apesar de menos corrente que o do sobrolho): a aplicação na costura, como em franzir uma bainha.

(segue-se o puxar da brasa à minha sardinha a ver se ainda consigo um bocadinho de razão)

de qualquer modo, poucos são os que alguma vez franziram uma bainha, enquanto que o sobrolho é franzido diariamente por milhões de pessoas em todo o mundo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

orsa nueles

a propósito das inovações formais que serviram a criatividade do seu citizen kane, disse orson wells algo parecido com isto: "eu fiz assim porque não sabia que não se podia fazer". aí estará metade do necessário para o génio, a outra metade será a ciência de fazer bem aquilo que não se podia, ou seja, utilizar a ignorância com sabedoria.

sábado, 7 de março de 2009

rugas de expressão verbal

o verbo franzir costuma andar agarrado ao sobrolho ou à sobrancelha (que é sensivelmente a mesma coisa). calculo (não me dei ao trabalho de investigar) que já tenha existido noutras utilizações correntes. mas, pelo que me parece, é agora escravo semântico da dita sobrancelha.

há pessoas que fazem cirurgias plásticas para remover o músculo responsável pelo franzir do sobrolho, reduzindo assim as nocivas rugas causadas por esta acção. quanto a mim, hei-de continuar a expressar nesse pequeno gesto a minha suspeita ou o meu espanto quando for caso disso. é que dá-me a sensação que alguma importância há-de ter o sobrolho e o seu franzir, pelo menos a suficiente para ter ganho um verbo só para si.

quinta-feira, 5 de março de 2009

a bateria do mp3

ia eu no carro a ouvir uma cantiga do james yorkston chamada tender to the blues, quando acaba a bateria do meu mp3.

mudei para a rádio mas a música comercial durante a tarde é uma coisa de tal maneira desoladora que desliguei o som e passei a ouvir os barulhinhos do carro (com a idade os carros vão ganhando ruídos apesar de tudo mais interessantes que a byoncé ou os per7ume (per-sete-ume?)).

e na falta de outras distracções, vai a minha memória (suponho que ao acaso) buscar uns desenhos animados que eu via quando era petiz - o he-man - masters of the universe. lá vou eu agora ao volante a pensar no he-man e no seu arqui-rival skeletor. não me recordo bem do aspecto, apenas que era uma coisa bruta e decerto mal feita. recordo-me sim do sentimento de ver aquilo, e especialmente da pica que me dava haver lá um tipo chamado skeletor (talvez por causa de uma voz profunda que ele tinha e da maneira poderosa como se apresentava), isso é que era cool.

pus-me então a pensar que na infância há um constante fascínio, porque há muitas coisas novas a aparecer. e à medida que o tempo passa, o fascínio do novo vai sendo atenuado pela persistência do velho, a gente acostuma-se às coisas e torna-se mais difícil sentirmo-nos entusiasmados. enquanto crescemos, não precisamos de andar um centímetro para que algo nos puxe o interesse, nos espevite a curiosidade. depois cada vez mais é necessário mover esforços para ir buscar isso.

de maneira que é importante conservar a curiosidade e não a deixar obedecer à ordem de despejo que a idade e a sociedade adulta querem impor-lhe. ganhar espaço, ampliar o pensamento, estar disposto a receber o novo, talvez ainda mais importante, estar disposto a rever o velho (a palavra renovar deve significar algo parecido).

entretanto cheguei ao meu destino e pensei que às vezes é bom que se acabe a bateria do mp3.