terça-feira, 28 de abril de 2009

não, agora à séria

ontem estava a dar aquele programa na televisão em que o diogo infante trata de corrigir, com a ajuda de um especialista, os erros mais comuns da língua portuguesa (o que se corrige na verdade é a maneira como a língua é usada (e o que vale a língua além da sua utilização?)).

ora uma das observações dizia respeito a um slogan publicitário onde aparecia a expressão "à séria", corrigindo-a para "a sério".

eu por mim sou um defensor da expressão que se dizia errada (e da certa também, cada uma na sua função). parece-me que uma coisa à séria é enfática e ao mesmo tempo contém aquele toque de brincadeira que lhe alivia o peso sem lhe tirar seriedade.

há erros (se for aceitável falar de erros quando se aborda um organismo mutável como um sistema de linguagem) que causam ruído na comunicação, há outros que lhe ampliam as possibilidades.

a gente ao falar precisa de salpicos na linguagem, de contornar a matemática implícita (a própria matemática da língua se irá transformando naquilo que se fizer dela).

quarta-feira, 22 de abril de 2009

see you around fiodor

uma vez o dostoievski escreveu um livro que em português se traduziu por crime e castigo. segundo os registos, escreveu-o até por mais do que uma vez, ou andou a escrevê-lo por várias. o nome do livro denuncia escarrapachadamente do que se trata, não há surpresa quando o leitor se vai apercebendo do tema fulcral. o mundo familiarizou-se com essa obra mas não se sabe ao certo quantas pessoas a leram. eu na minha ideia era giro que fossem muitas.

acontece que no fim de contas andou-se ali a acompanhar um personagem e aquilo conduz-nos a coisas que são de a gente ser gente humana, das boas e das outras que arrepiam o pensá-las.

disse que se acompanha ali um personagem. reformulo, acompanha-se principalmente o interior, a psique, em tudo o que ela tem de racional conjugado com o que lá anda de aparentemente incontrolável, o consciente, o inconsciente, as várias maneiras por que um pensamento, uma ideia ou um sentimento se processam. já toda a gente disse sobre a genialidade do dostoievski, faz parte dos cânones reconhecê-lo.

as maiorias não têm razão nem deixam de ter, visto que as opiniões das maiorias não se fundamentam em observações e reflexões acerca da coisa em que recaem mas em outras opiniões. já essas outras opiniões podem ser fundamentadas em reflexão e observação, em pura manipulação ou em coisas difíceis de determinar. de uma ou de outra maneira, as opiniões das maiorias não são muito de fiar devido à falta de rigor e de solidez que normalmente acarretam, embora às vezes lá coincidam com coisas que podem conter alguma solidez e rigor.

resumindo, ninguém se atreve a dizer mal do dostoievsky por causa disso dos cânones (ainda que a maioria da maioria que diz que sim senhoras nunca lhe tenha lido uma frase). eu, que evito maiorias, vejo-me por linhas travessas agregado a elas algumas vezes. não sei dizer se a minha opinião sobre o dostoievsky e o crime e castigo seria a mesma se nunca tivesse ouvido falar dele mas estou convencido de que seria difícil algo em mim não vergar de admiração, é que aquilo é uma coisa de uma humanidade, de uma riqueza, de um entendimento, de uma inteligência (poderia continuar: subtileza, elegância, requinte e por aí fora) que é quase crime não ser lido (como muitas outras coisas que eu nunca li e nunca lerei, o meu castigo é não saber o que perdi).

segunda-feira, 20 de abril de 2009

dos braços das mães da gente

a gente por vezes era um medo de ficar sozinhos. por causa que o mundo era um lugar grande e desorientava (ao menos nas presenças dos outros sempre há um aconchego e os corpos parecem mais leves).

as noites escuras somavam-se ao tamanho do mundo quando nos aninhávamos para dormir. ninguém nos ensinava a saber estar sozinhos, e cresceu-se assim com coisas de medos dentro do pensá-las, a vida fez-se-nos de formas que não contávamos e ninguém nos tinha ensinado isso.

às vezes apetece-nos encolher e não ter vergonha de dizer (porque em crianças a gente não temos essas vergonhas, diziamos assim): tenho medo (e uns braços grandes (talvez maiores que o mundo, provavelmente maiores) agarravam-nos e aquilo era ali um conforto tão quentinho e seguro). um dia a gente ainda havemos de saber dizer outra vez disso e uns braços às nossas voltas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

qualquer coisa para o blogue

rais parta a cena pá,

o quê,

rais parta isto tudo,

estás assim por causa da chuva,

não, não sei, também é da chuva mas não sei, é coisas às vezes dentro da gente parece que a aproximarem-nos de uma loucura, mais ou menos como aquela que se encontra em ler certos romances,

caramba, descontrai, inda noutro dia falavas de franzir sobrolhos e daquelas unhas postiças que há para as moças que querem ser glamorosas,

eu não falei de nada disso, dos sobrolhos falei, das unhas não, pelo menos não me lembro,

não interessa, vê lá se aranjas outra cara pá,

isso ajuda muito,

escreve alguma coisa para o blogue,

que se lixe o blogue, não tenho nada para dizer,

então escreve a dizeres isso,

para quê,

a ver se a chuva pára, ao menos a pessoa vai dar uma volta e espairece, olha podias escrever sobre o verbo espairecer, é engraçado, eu espaireci tu espaireceste, já tenho espairecido, actualmente espaireço pouco mas espairecerei mais em breve, não achas isto giro,

é capaz, tu com essa inspiração,

estás a ser irónico,

é que podias escrever qualquer coisa, dou-te a password do blogue e se quiseres vais lá postar isso que estás a dizer que a mim não me apetece.