terça-feira, 12 de maio de 2009

crescem nós dentro da gente

(quando eu andava na escola primária:)

- minha senhora

(era assim que chamávamos a professora)

- minha senhora, a gente inda não passou os deveres.

- agente é da polícia

(dizia a professora)

- a gente não se diz, é nós

(a gente se fosse agora dizia-lhe assim:

- minha senhora, nós é numa corda se respeitarmos a grafia da palavra, se não também pode ser fruto seco).

segunda-feira, 11 de maio de 2009

a gente às vezes havia de ser uma águia

refere o bill callahan no seu mais recente álbum (sometimes i wish we were an eagle) uma situação em que há demasiados pássaros numa árvore, de maneira que um último pássaro já não tem lá espaço onde poisar e acaba por ter de dormir em cima de uma pedra.

há muita gente de expressar coisas que gosta de pássaros e os usa como símbolo ou metáfora de sentires humanos, há também quem os feche numa gaiola para os ter. eu gosto deles à solta, ali a voar com a ciência que a natureza lhes deu de superar a gravidade.

se a gente fosse um pássaro era tramado andar aí a voar e não ter onde aterrar, mas por outro lado às vezes está-se bem numa pedra, mesmo que pareça desprotegida e fria, dá espaço à nossa vida de pássaro voador para pausar um bocadinho na solidão e deixar as tremuras do corpo abanar a cabeça (a ver se as penas velhas se misturam com outras novas e a gente ganha novo fôlego para levantar voo).

sexta-feira, 8 de maio de 2009

unhas de gato

por causa disto das gripes a ministra da saúde tem falado muito. sempre que ela aparece há qualquer coisa que me incomoda no ouvi-la mas tive dificuldade em perceber o que era. finalmente dei-me conta de que a senhora desafina a falar (compreendo agora que se pode desafinar a falar). e faz uma impressão como aquele chiar de um giz num quadro ou das unhas de um gato num vidro.

há mais pessoas que sofrem disto (por exemplo, a maria de belém roseira, a manuela ferreira leite, o carlos castro também desafina muito).

é desejável que a questão das gripes se resolva, por um lado pela saúde pública e por outro (apesar de aparentemente menos importante) para que a senhora ministra não surja tantas vezes na comunicação social a raspar unhas de gato nos ouvidos da gente.