domingo, 12 de outubro de 2008

cândido varela

vossemecê chega a casa às três da manhã, a rua fica lá fora. resguarda-se no silêncio, corrompe-o com o martelar no teclado do computador. deixa-se ficar a olhar para os dedos sem os ver porque escrever é isso (excepto agora que o pensou e vê os dedos com a consciência de os ver). a esta hora surge-lhe na ideia um poema que o cândido varela lhe deixou. ele iria com certeza gostar de o ver aqui largado em registo e homenagem. cá fica.

03,23
12,10,2008

e eu

vou em estado de presente
para o futuro do sonho,
um pé atrás, outro à frente,
ainda sei bem onde os ponho,

enquanto os olhos abertos
me guiam até ao ninho,
onde os encolho em desertos
que congemino sozinho.

depois os pés adormecem,
não preciso deles aqui,
e os olhos também se esquecem
do que neste dia vi.

embarco para outros mundos
como os poemas que faço,
dentro de sonhos profundos
já não há tempo nem espaço.

livro-me de ser quem sou
sendo o sonho e o sonhá-lo,
porque o lá fora guardou
o dia e o eu pensá-lo.

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